terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Grandes festivais de Metal no Brasil | É bom demais pra ser verdade?

Por Jaime "Netão" Guimarães

Era bom demais pra ser verdade: esta era uma das frases mais repetidas por headbangers de todo o Brasil em abril de 2012, período em que aconteceu o fatídico e infame Metal Open Air (MOA). Meses antes a euforia era imensa. Do nada surge o boato de que haveria um grande festival no país. O que era boato começou a ganhar corpo, e bandas, local, venda de ingressos, estrutura, logística, etc, foram anunciados. O povo começou a creditar que o evento aconteceria mesmo e que seria um marco para o Metal no Brasil. Tudo ficou a cargo das empresas Negri Concerts, de São Paulo, e Lamparina Produções, do Maranhão, Estado onde foi realizado o festival.

Porra. Quem não queria que aquilo desse certo? Obituary, Destruction Exodus, Anvil, Venom, Ratos de Porão, Attomica, Exciter, Headhunter DC, e mais uma caralhada de bandas que todo mundo gostaria de assistir, e o melhor, tudo num fest só, e no Brasil. Imagina!? Eu mesmo cheguei a comprar meu passaporte, só não fui por motivo$ outro$.

Mas era bom demais pra ser verdade...



Às vésperas da grande celebração que seria o evento os problemas começaram a surgir, e pela internet todos tinham pelo menos noção do que seria um grande perrengue. Falta de organização, de segurança, de orientação; e o pior: falta de bandas. Diversos grupos começaram a cancelar suas apresentações por falta de pagamento de cachês, passagens e outros pormenores acordados. Algumas, a exemplo do Obituary, chegaram a desembarcar no aeroporto de São Luiz, mas tiveram que voltar, pois não havia nem suporte. Nada.

Resultado. O festival aconteceu, mas com menos da metade das bandas vendidas em seus ingressos e material promocional, e com muito menos ainda em serviços que eram prometidos aos consumidores. Muitos ainda aproveitaram as apresentações que foram possíveis de acontecer, mas a raiva por serem lesados permaneceu. Sem contar as horas e horas gastas em ônibus vindos de longas distâncias, as dormidas em aeroporto, os furtos dentro do local do evento... o caso foi até parar em rede nacional, e os produtores (de merda) ficaram marcados como bandidos, tendo o posto de líder o pilantra Felipe Negri.

Pois bem. Voltando pra 2014. Esse ano foi anunciado um grande cast no Zoombie Ritual, um festival já firmado no cenário metálico do Brasil, que está em sua sétima edição e acontece em Rio Negrinho, Santa Catarina. Além de grandes nomes gringos, muitas clássicas bandas nacionais foram anunciadas como integrantes da grade de shows do evento, que acontecerá durante este fim de semana. Até aí, tudo bem. O Zoombie Ritual já tem uma tradição, foi realizado por outras seis vezes, e sempre agradou o público. Não é um MOA, que surgiu de uma hora para outra. O problema foi uma onda de cancelamentos que se sucederam e acabaram por gerar polêmica quanto a idoneidade da produção. Para citar alguns: Mpire of Evil, Onslaught, Stress, Krisiun, Brujeria, Carcass, incantation, Whiplash, Ragnarok, etc.



O público do evento ficou dividido. Uma parte acha que é comum que alguns  grupos cancelem em um festival desse porte; outra parcela ficou indignada com a “falta de competência” dos produtores do festival e até chegaram a cancelar sua ida. Muitos se dizem arrependidos por terem gasto dinheiro com passagens, barracas, planejamento, e estão frustrados. E outros, também, não deram tanta importância para as baixas no line-up e vão para os quatro dias de Metal em Rio Negrinho. Demais eventos pelo país foram prejudicados e tiveram que dar seus pulos para resolver os buracos em sua programação, já que aproveitariam a vinda das bandas para fazer mais datas, além do Zoombie. Teve até membro de banda, a exemplo o Onslaught, que ficou sabendo que não iria mais vir pelo facebook.

Já a gerência do ZR explicou as faltas do cast tendo como argumentação problemas financeiros e pouca procura por ingressos antecipados, cujo valor arrecadado seria utilizado para custear a vinda dos grupos. Algumas outras bandas, como Salário Mínimo e Sex Trash, desistiram por motivos alheios à produção do evento. Foi também dada  opção de as pessoas que se sentirem lesadas reaverem seu dinheiro de volta, e alguns outros grupos entraram para "tapar buraco".



É bom frisar que, apesar da comparação, esse texto não visa acusar o ZR de agir da mesma forma que o MOA – muito longe disso –, mas sim trazer uma reflexão acerca da realização de grandes festivais, com enormes custos e logísticas complexas, sendo realizados para o público underground do Brasil. Os brasileiros não são capazes de realizar grandes eventos? Sim, são. Sou contra o discurso derrotista que prega o “ah, isso é Brasil...”, pois isso põe todos em um mesmo “saco”, e é preciso reconhecer que há muita gente ralando pra fazer bons eventos, com muitas bandas, e o máximo de seriedade possível.

O problema é querer abraçar o mundo com os braços. Falta de planejamento. Não se pode entrar em uma empreitada deste porte e se confiar em venda de ingresso antecipado, isso é um tiro no escuro. Não se pode chamar trocentas bandas gringas fodas e não ter a garantia que poderá arcar com a vinda, estadia e pagamento de todas. Mesmo agradando uma ala do público, outra ficará insatisfeita, e estes últimos farão barulho na próxima edição, e muita gente ficará com pé atrás em futuros eventos. É uma bolha estourando e sujando todo mundo.  

Para além do nacional, fica a imagem de que no Brasil não tem produtor responsável (e podem acreditar que uma imagem suja é mais difícil de limpar do que o contrário). Recentemente houve o caso do Toxic Holocaust, que cancelou parte de sua turnê na América do Sul e acusou não cumprimento de alguns cachês e acordos em países vizinhos, o que gerou um enorme problema e constrangimento entre a banda e os bangers que queriam ver os shows, além de acusações de produtores brasileiros a outros sul-americanos e vice-versa. E isso é só pra citar um caso, dentre vários.


Vejam bem. Imaginemos, por um momento, que toda essa energia para fazer “o maior festival que o Brasil já viu”, pra trazer “o maior cast que este país já presenciou”, fosse utilizada para fazer um puta festival com muitas bandas nacionais e algumas gringas possíveis, como acontece em algumas iniciativas louváveis aqui mesmo. Melhor, se reduzissem, um pouco, a ambição e planejassem bem seus gastos e estratégias de marketing, visando não depender do ovo no cu da galinha.  Ninguém quer outro Metal Open Air. Imaginem! Seria bom demais pra ser verdade?


666!

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